sábado, 4 de maio de 2019

Batismo: a confirmação da purificação

E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. At 2:38 
À primeira vista, esse versículo parece ensinar a salvação pelo batismo, e muitos in­sistem em que é o caso. Tal interpretação é impossível pelos seguintes motivos:
• Em diversas passagens do Novo Testamento, a salvação é pela fé no Senhor Jesus Cristo (Jo 1:12; 3:16,36; 6:47; Atos 16:31; Rm 10:9). Seria inconcebível um versículo contradizer esse testemunho poderoso. Em Atos 2:44 fala de "todos os que creram" como constituintes da igreja primitiva, e não fala de todos os que foram batizados.
• O ladrão na cruz recebeu garantia da salvação sem o batismo (Lc 23:43).
• Em nenhum lugar, se diz que o Salvador batizou alguém, uma omissão inexplicável, caso o batismo fosse essencial para a salvação.
• O apóstolo Paulo dá graças a Deus por ter batizado apenas alguns coríntios, um motivo estranho de gratidão, caso o batismo tivesse mérito salvífico (ICo 1:14-16).
• A palavra "para" (no grego eis) pode significar "com vistas a" ou até mesmo "por causa de". Nesse caso, o batismo na água seria por causa de eles terem sido salvos, não para que fossem salvos.
Em vista de todos esses fatores é melhor entendermos as palavras de Pedro da seguinte forma: "Arrependei-vos e sede batizados considerando o perdão dos pecados". Fica claro - pelo contexto e pelo restante das Escrituras - que esta "consideração" é retrospectiva, ou seja, feita à luz dos pecados, já perdoados após a salvação. Crer (ou arrepender-se) e ser batizado são colocados juntos, já que o batismo deve vir depois da crença. Mas em parte alguma está escrito: "aquele que não é batizado será condenado"(cf. Mc 16:16). Contudo, Jesus disse enfaticamente que "o que não crê já está julgado" (Jo 3:18). Portanto, a idéia do batismo para o perdão dos pecados não significa que o batismo resulte no perdão dos pecados, mas que o perdão dos pecados como o efeito de aceitar a Jesus como Salvador deve levar a um batismo, uma demonstração exterior de uma convicção interior. O arrependimento, e não o batismo, é que traz o perdão.

Por Misael Silveira

sexta-feira, 3 de maio de 2019

A Palavra viva encarnou

Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade. 1 Jo 5:6 
João falava da “fé” como vitória sobre o mundo. Contudo não se trata de uma fé qualquer ou indefinida. João tampouco diz que a fé constitui, como função nossa, uma força vitoriosa sobre mundo. Essa força está localizada no conteúdo de nossa fé, na natureza e pessoa daquele em quem confiamos. Por isso agora João continua falando de Jesus, mostrando, em contraposição às opiniões gnósticas, a que Jesus ele se refere. “Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue.” O simples fato de Jesus “ter vindo” já constitui uma verdade decisiva. “Eu vim…”, quantas vezes o próprio Jesus afirmou isso! Contudo também os gnósticos falavam da “vinda” de um Redentor. Mas tinham diante de si um personagem bem diferente do Jesus Cristo anunciado pelos apóstolos. Em razão disso é preciso explicar com toda a clareza para quê ele “veio” e como aconteceu sua vinda. João destaca duas características decisivas: Jesus veio “por água” e “por sangue”. O que significa isso?
Água e sangue têm sido interpretados pelo menos de quatro formas:
• Alguns entendem a água e o sangue como uma referência simbólica ao batismo e a ceia do Senhor. Esta foi a opinião de Lutero e vários comentaristas dizem que era a opinião de Calvino. Essa visão é improvável por dois motivos. Primeiro, enquanto a água pode representar o batismo, o sangue seria um símbolo incomum para a Ceia do Senhor. João provavelmente não omitiria uma referência ao corpo de Cristo se ele quisesse dizer a Ceia do Senhor. Em segundo lugar, João diz que Jesus veio pela água e pelo sangue, que aponta para a sua vinda histórica do passado, não para qualquer vinda espiritual contínua através do batismo e da Ceia do Senhor.
• Alguns ligam esta passagem com João 19:34-35, onde João testifica do sangue e da água que fluíam da ferida da lança ao lado de Jesus. Agostinho de Hipona e alguns outros comentaristas antigos sustentavam esse ponto de vista. À primeira vista, parece lógico, já que João escreveu ambas as passagens. Ambos os textos enfatizam a água e o sangue, e ambos enfatizam a ideia do testemunho. Mas as semelhanças não estão tão próximas de um exame mais aprofundado. Em 1 João, Jesus veio por água e sangue, enquanto no Evangelho, foi sangue e água que saíram de Jesus. Em 1 João, a água e o sangue dão testemunho de Jesus, enquanto no Evangelho, João dá testemunho do sangue e da água. Em 1 João, a água e o sangue parecem dar testemunho da pessoa divino-humana de Jesus, enquanto no Evangelho, o sangue e a água testemunham a morte humana de Jesus.
• Uma terceira abordagem é a C.H Spurgeon (Metropolitan Tabernacle Pulpit, sermão 3252, “Por Água e por Sangue”). Spurgeon explica, “Pelos termos 'água' e 'sangue' nós entendemos os efeitos purificadores e perdoadores da obra de Cristo para o seu povo”. Embora isso seja verdade em um nível secundário, não é o significado primário de João. Ele está apresentando fatos que estabelecem o testemunho de Deus para a pessoa e obra de Jesus Cristo como historicamente revelado. Embora a pessoa e a obra de Jesus nos purifiquem do pecado e nos perdoem, esses não são os fatos históricos aos quais João está dirigindo seus leitores para refutar os hereges.
• Assim, a interpretação mais satisfatória toma a água como referência ao batismo de Jesus (no início de seu ministério terrestre) e ao sangue como referência à Sua morte na cruz. Essa era a visão de Tertuliano. É a melhor visão porque, no contexto, João está enfatizando os fundamentos históricos da fé. Tanto o Seu batismo como a cruz são experiências históricas que testemunham a pessoa divino-humana de Jesus. Em cada um desses eventos, o Pai interveio de maneira miraculosa para dar testemunho de Seu Filho. No batismo de Jesus, o Espírito desceu sobre Ele como uma pomba e a voz do céu foi declarada ( Mt 3:17), “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Em Sua crucificação, o céu escureceu, a terra tremeu, várias ressurreições ocorreram, e o véu do templo se rasgou de alto a baixo ( Mt 27:51-53).
Essa interpretação também se encaixa com o que sabemos do cenário histórico de 1 João. O gnosticismo ensinado por um filósofo de Éfeso, chamado Cerinto ensinava que Jesus de Nazaré tornou-se filho de Deus ao ser batizado por João Batista no rio Jordão. Ele afirmava que o Cristo divino desceu sobre o homem Jesus nesta época, e abençoou o seu ministério, mas partiu antes do sofrimento da crucificação. João refuta estas idéias gnósticas e coloca o machado da verdade na raiz desta perniciosa heresia. Visto que os gnósticos concordavam que Jesus era o Cristo no Seu batismo, João acrescenta (5:6b), “não somente com a água, mas com a água e o sangue”. Isto é para dizer que Ele era o Cristo durante e depois de Seu crucificação.
Portanto, o propósito de João é mostrar que Jesus é o mesmo desde o seu nascimento até a sua morte. Ele é o homem Jesus e o Cristo de Deus.

Por Misael Silveira

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Apresentando-se a Deus, purificados

cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa, Hb 10:22 
O autor de Hebreus incentiva os leitores a se apresentarem diante de Deus com quatro características:
• Verdadeiro coração. Não devemos ir indiferentes, ou com motivações ou pretextos inadequados, mas com uma adoração pura, completa, e sincera.
• Em inteira certeza de fé. Os cristãos podem se apresentar a Deus com ousadia, livres da culpa, graças à obra de Jesus Cristo. Podemos ir até Deus sem duvidar, confiando que Ele irá nos ouvir e responder.
• O corpo lavado com água limpa. A imagem de uma ação exterior retrata, na verdade, uma purificação interior. Assim como o batismo é apenas um sinal exterior que representa a purificação que Deus realiza dentro de nós, também este ato de lavar- se se refere a uma purificação interior do pecado.
• Tendo o coração purificado da má consciência. Esta é uma linguagem sacrificial. Sob o novo concerto, os corações e as consciências são purificadas (Hb 9.14). Isto difere do antigo concerto pelo fato de que a consciência fica completamente purificada, e não parcialmente ou temporariamente.
Uma vez purificados, os cristãos podem se aproximar de Deus.

Por Misael Silveira